segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

O MINISTÉRIO DA RECONCILIAÇÃO: UM BASTA À HERANÇA DE DIVISÕES



Testemunho de Matteo Calisi*

Reproduzimos, a seguir (com pequenas adaptações que a modalidade escrita exige), a mensagem que o católico Matteo Calisi (veja ao final um breve resumo de sua atuação ministerial) compartilhou na Comunidade Evangélica Carisma em Osasco SP, no dia 19 de outubro de 2009.

O que estes dois católicos estão fazendo numa igreja evangélica? – é o que muitos devem estar se perguntando. O que está acontecendo hoje neste local é simplesmente a resposta de Deus Pai àquilo que Jesus já orou em João 17.22 [citação livre]: “a mesma glória que tu deste a mim, deste a estes para que sejam um, como eu e tu o somos”. Não se trata de uma denominação incluir a outra e criar uma unidade humana, mas de responder à vocação que todos temos de, em Cristo, sermos uma só igreja, uma só realidade, não importa a que denominação pertençamos.

A busca da unidade não é uma opção à igreja de Jesus. A unidade é uma escolha da soberania de Deus e está no coração do próprio Evangelho. E o ministério de Jesus é um ministério de reconciliação. Ele veio para nos reconciliar com o Pai e com nossos irmãos. E isso se deu na cruz, quando ele livremente se ofereceu ao Pai. Por essa razão, nenhum cristão tem o direito de chamar a Deus de seu Pai se não se dispuser a amar os outros como irmãos.

O batismo no Espírito Santo e o encontro com David du Plessis

Nos anos 70, tive uma forte experiência com Jesus Cristo como meu salvador pessoal, quando fui batizado no Espírito Santo. Na época, eu sabia que essa experiência era muito comum entre vários cristãos que viviam em outras igrejas. Apesar desse batismo, algo ainda me inquietava, pois eu percebia que um pecado permanecia entre nós: o pecado da divisão. Muitos cristãos daquele tempo aceitavam esse pecado na igreja como se fosse alguma coisa normal.

Naqueles dias, eu tive a alegria de encontrar um pastor evangélico muito famoso, líder mundial, chamado David du Plessis, que ficou conhecido como “Senhor Pentecostes”. Falava-se muito dele, do seu testemunho, e eu estava bastante impressionado com a obra desse pastor que, até então, conhecia apenas dos livros.

Este homem, nascido na África do Sul, havia recebido a seguinte profecia do missionário inglês Smith Wigglesworth: o batismo no Espírito Santo não era apenas para as igrejas pentecostais. Estas iriam se surpreender, ele disse, porque um dia esse batismo seria derramado na Igreja de Roma. E foi de fato o que aconteceu nos anos seguintes. Em 1975, acontecimento inédito, a basílica de São Pedro, no Vaticano, recebeu um grande congresso mundial de carismáticos católicos: foi a primeira vez que as pinturas de Michelangelo escutaram pessoas cantando em línguas estranhas. Mas era só o início. Se até o final dos anos 60, pouquíssimos católicos haviam recebido o batismo no Espírito Santo, hoje eles são cerca de 150 milhões no mundo provando ou buscando essa experiência. O próprio Papa, além de reconhecer oficialmente a Renovação Carismática na Igreja, também a apoia e sustenta.

É uma alegria ser uma testemunha dessa primavera de Pentecostes na Igreja Católica Romana. Mas deixem-me contar como tudo começou. Quando tive minha primeira experiência carismática, estava estudando em Roma, na Universidade Pontifícia Gregoriana, considerada oficialmente a Universidade do Papa. Desde o meu ingresso, encontrei ali padres e irmãs que oravam em línguas e também dançavam. Eu pensei: “Essa gente não é católica”. Poucos fazem ideia da importância que teve esse grupo carismático lá dentro daquela Universidade. Muitos padres que por lá passavam, participavam dos retiros de oração, recebiam o batismo no Espírito Santo e depois voltavam para seus países e continentes, já formados, levando essa experiência adiante. Assim, esse movimento se espalhou como um incêndio, colocou fogo em várias nações.

Quando encontrei pessoalmente o pastor David du Plessis, ele me falou dos sofrimentos que vinha experimentando em virtude de estar sendo mal compreendido por acompanhar os irmãos católicos nessa mesma experiência do Espírito Santo. A liderança de sua igreja [ele era das Assembleias de Deus] chegou ao ponto de retirar-lhe todas as credenciais de pastor. Mas era o preço que tinha que pagar para Deus o usar para “tocar” milhões e milhões de pessoas em muitos países. Ele fez de seu pastorado um ministério de perdão e reconciliação. David du Plessis levava um botom de metal na lapela do paletó com a inscrição 70 x 7, que recordava a advertência de Jesus sobre a necessidade de perdoar, se preciso, 70 x 7 vezes a cada dia, o que significa sempre. De fato, quando o encontrei, ele tinha esse botom no paletó. Para minha surpresa, ele pegou esse botom e o prendeu na minha camisa. Depois disse: “Filho, que você também possa ser um embaixador de reconciliação nas igrejas”.

Católicos e evangélicos lavam os pés uns dos outros

Naquela época, eu não tinha muita clareza sobre o que fosse pentecostal, evangélico ou carismático. Eu ignorava tudo isso. Bem, a primeira decisão que tomei, depois dessa palavra, imaginando que todas as portas à minha frente iriam se abrir, foi de visitar uma igreja evangélica pentecostal que havia na minha cidade. Mas quando me vi diante do pastor e me apresentei como católico carismático, ele simplesmente se recusou a me receber.

Na Itália sempre foi bastante complicada a relação entre católicos e evangélicos. Já tivemos muita competição. Fomos muito arrogantes uns com os outros. Produzimos feridas entre nós, fizemos muitas invenções circularem. Por isso tudo, de nossa parte, como católicos, queremos dizer a vocês hoje aqui presentes: “Perdoem-nos, porque não levamos a sério nem consideramos devidamente o projeto de Deus e a glória de Jesus na vida de vocês, evangélicos”.

O Senhor, naqueles tempos, começou a me inspirar até mesmo em sonhos, dando-me muitas visões sobre a reconciliação dos cristãos. Eu era apenas um jovem de 18, 19 anos que sonhava durante a noite com situações completamente estranhas e desconhecidas. Somente depois de muitos anos fui perceber que o Senhor estava me chamando ao ministério de reconciliação na sua igreja.

Até o final dos anos 70, não aconteceu muita coisa. Mas no início dos anos 80, um pastor chamado Giovanni Traettino me procurou. Ele me disse: “Eu escutei muito falar da sua comunidade, Matteo, a Comunidade de Jesus, e vim aqui para verificar as possibilidades de nós trabalharmos juntos”. Entendi que a profecia do pastor David du Plessis começava a se cumprir. Mas esse caminho de proximidade, de reconciliação entre católicos e evangélicos não era bem visto pelas autoridades das igrejas. De fato, a hierarquia das igrejas olhava isso com muita suspeita.

Um dia, porém, eu tomei a decisão de convidar o pastor Traettino a pregar numa assembleia de católicos carismáticos. Era no estádio de futebol da minha cidade, Bari, onde estavam 20 mil católicos da Renovação adorando a Deus. Pela primeira vez na Itália, um pastor evangélico ministrava a Palavra na presença de um grupo católico. Naquele dia, aconteceu um verdadeiro Pentecostes. Ao final da pregação do primeiro dia, o pastor aproximou-se de mim e disse: “O Senhor está me inspirando a um gesto de reconciliação. Matteo, esta tarde eu quero lavar os pés de um irmão que represente a igreja católica”. Não pude deixar de lhe dizer: “Atenção, Giovanni, é melhor ter prudência. O que os seus irmãos evangélicos vão pensar? Essa tarde, se fizer isso, você vai pagar um preço muito alto”.

Mas ele levou esse desejo para o hotel. Como não conseguisse dormir e transpirasse acima do normal, passou aquela noite em oração. Uma voz forte, a mesma que Pedro havia escutado depois de ter visto descer do céu aquele lençol cheio de animais impuros, falou com Giovanni: “Mata e come! Porque aqueles que você pensa que são impuros, eu os tornei puros para mim mesmo”. Ele percebeu que Deus o chamava para inaugurar um tempo de reconciliação na igreja cristã na Itália. Na manhã seguinte, novamente presente ao estádio de futebol onde o Congresso prosseguia, com muita humildade o pastor Traettino se ajoelhou diante de um padre da Igreja Católica e lavou-lhe os pés. Naquele momento no estádio, eu senti o sangue de Jesus lavando todos os presentes. Num único gesto de humildade, o Senhor curou anos de ressentimentos, de mentiras, de ódio, de dissensão, de distanciamento.

A história do evangelismo na Itália é muito triste, cheia de perseguições, algumas delas muito violentas, sobretudo durante o período da ditadura de Mussolini, em que, segundo a lei, as comunidades evangélicas eram consideradas ilegais, clandestinas. É óbvio que era um regime social, fascista, e a Igreja Católica não queria isso. Mas ao mesmo tempo a Igreja Católica não tinha tido forças de elevar a voz para defender os irmãos evangélicos. Quando o pastor Traettino lavou os pés de um representante católico, Deus lavou o ressentimento de muitos anos de exílio, de perseguições, de expulsões de pastores evangélicos, tribulação com a qual, em parte, os católicos haviam contribuído ao se omitirem e não defenderem o direito dos irmãos evangélicos. Naquele momento, no estádio, enquanto o irmão Traettino perdoava aos católicos, o sangue de Jesus estava inaugurando um relacionamento novo, inédito entre um e outro grupo.

Depois de alguns meses, esse mesmo gesto de lavar os pés, de reconciliação, foi retribuído ao pastor. Estávamos num congresso carismático católico com 60 mil fiéis. Os bispos, e até mesmo cardeais, que tinham vindo para o evento se ajoelharam na presença do pastor e, em fila, um a um, beijavam-lhe os pés. Naquele momento, o sangue de Jesus, com sua força, veio e nos ligou, depois de curar muitas feridas. E esse mesmo espírito de reconciliação, desde então, foi-se difundindo em outras nações. E é um grande milagre do Espírito Santo o que nós hoje percebemos como um movimento de reconciliação entre os cristãos em toda a América Latina.

A reconciliação avança

Vimos o início desse mesmo mover da graça na Argentina, de modo surpreendente. Um servo de Deus, o pastor Jorge Himitian, foi escolhido para iniciar e levar adiante esse ministério de reconciliação entre católicos e evangélicos. Por seu intermédio, Buenos Aires viu pela primeira vez um católico sendo convidado para ministrar a Palavra num congresso de líderes evangélicos. E de lá pra cá, criou-se um movimento, uma corrente de reconciliação que está avançando com muita velocidade naquele país. Os católicos e evangélicos da Argentina se encontram não só para adoração, mas também para se colocarem firmemente juntos em favor de ações sociais que ajudem a erguer um povo muito sofrido por causa da pobreza.

O mais interessante nessa história é o envolvimento do cardeal-bispo de Buenos Aires. Uma vez por mês, ele recebe os pastores evangélicos para um momento de oração em comum e de intercessão uns pelos outros. Descobrimos, recentemente, que um dos assessores da equipe de serviço do bispo é pastor evangélico. E, fato ainda mais curioso, num andar do palácio episcopal de Buenos Aires, o líder católico reservou um espaço que vem sendo considerado uma “capela evangélica”.

Nesta capital argentina, já tomamos parte em cinco encontros que reuniram 7 mil católicos e evangélicos. Todos os eventos tiveram a participação desse bispo. Num deles, ele foi com muita humildade ao palco, ajoelhou-se e pediu oração. Pastores e líderes evangélicos impuseram as suas mãos e profetizaram sobre o bispo. Para muitos, aquilo foi um escândalo. Que era aquilo de um bispo católico se permitir que evangélicos lhe impusessem as mãos e orassem por ele?! Todos esses sinais foram muito fecundos na esfera espiritual, sobretudo levando em conta que muitos cristãos deixaram de ignorar a verdade de que tinham irmãos e irmãs em outras igrejas.

Esse ministério de reconciliação continua avançando. Em 2006, o Movimento Pentecostal Mundial celebrou nos EUA, na Rua Azusa, os 100 anos desde a primeira manifestação carismática, e eu fui convidado a estar entre os organizadores. Em abril de 2010, o convite se repetirá para a organização de um congresso na Oral Roberts Univesity, em Oklahoma, cujo objetivo será orar pela manifestação do Espírito Santo sobre as novas gerações de cristãos. Esta será a primeira vez que uma representação oficial da Renovação Carismática Católica estará entre os participantes desse congresso. A explicação é que líderes mundiais de linha pentecostal já consideram os católicos carismáticos como membros da mesma família.

Esse movimento de reconciliação está mudando o clima espiritual a nível mundial. Para o 3º Congresso Internacional sobre Evangelização Mundial (Lausanne III, movimento que teve como fundador o evangelista Billy Graham), previsto para acontecer no final do mês de outubro de 2010 na Cidade do Cabo, África do Sul, lideranças evangélicas convidaram o Vaticano a estar representado, um fato simplesmente inédito.

Um basta à herança de divisões

Todos esses acontecimentos mostram um fato: o pecado da divisão entre nós cristãos está ficando para trás. E mais: existem cristãos e cristãs da geração presente, homens e mulheres de Deus, que estão tendo a coragem de dizer: “Basta, não queremos mais essa herança de divisão das gerações anteriores”. O pecado da divisão da igreja é algo tão diabólico que sua perpetuação levou cristãos a se considerarem diferentes entre si, aceitando isso como algo normal. Mais que um pecado, a divisão é um demônio surdo e mudo, que deve ser desmascarado, amarrado aos pés da cruz do Senhor. Nós precisamos libertar nossas comunidades desse demônio tão teimoso porque esta divisão é um pecado que contraria a vontade de Deus.

Jesus foi claro ao orar: “Pai, que eles sejam um para que o mundo creia”. Se nós não nos unirmos, se não deixarmos os pecados de divisão, o mundo não será salvo. Parece um paradoxo, mas o mundo está pronto e querendo ouvir o Evangelho, aguardando a manifestação dos filhos de Deus. Nós é que não estamos prontos para este anúncio por estarmos tão divididos. O mundo se vira para nós e diz: “Vocês, cristãos, primeiro se coloquem de acordo entre vocês, depois venham pregar o que pensam para nós”.

Se continuarmos desunidos, o mundo não vai dar crédito a nossa pregação. E esta é a nossa decisão: não queremos cometer os mesmos erros das gerações anteriores, mas, antes, interceder por uma profunda purificação, o perdão de todos estes pecados, uma cura de todas as memórias feridas para que entremos na herança de uma nova geração de uma igreja unida. Como Jesus pediu ao Pai: “Pai, a glória que tu me deste, eu quero dar a estes para que sejam um só comigo como eu e tu somos um só” [citação livre de Jo 17.22).

Desde aqueles tempos que mencionei, tenho visto esses gestos de perdão e reconciliação se multiplicarem em nível mundial. Cada vez mais, igrejas católicas fazem a partilha do púlpito, acolhendo ministros evangélicos para ministrarem a Palavra. Em comunidades evangélicas, acontece a mesma coisa, à medida que ministros, leigos e missionários católicos são convidados para ministrarem a Palavra. Eu já estou há 26 anos nesse ministério; 80% do tempo dedicado a ele eu exerço em comunidades evangélicas e pentecostais. Também na cidade de Bari, na Itália, onde eu vivo, temos uma comunidade católica. É uma comunidade de vida reconhecida oficialmente pelo bispo e pelo Papa, que recebe contribuições importantes que ministros de diferentes igrejas trazem para nós: evangélicos, pentecostais, ortodoxos, não denominacionais, carismáticos, anglicanos e até mesmo hebreus messiânicos. Isso é muito claramente um novo Pentecostes.

É claro que não é um projeto humano. Estamos conscientes de que algo assim só pode ser plano de Deus. De fato, a unidade dos cristãos não é produto humano, não é fruto de um esforço nosso. E também não é só fazer declarações doutrinais conjuntas, mas trata-se, sobretudo, de um dom que devemos receber de Deus. A comunhão de todos os cristãos vive no coração da Trindade, no próprio Deus. Lá é a sua casa. O Pai, o Filho e o Espírito Santo já vivem em si essa unidade em comunhão. A unidade da igreja será uma realidade quando pedirmos ao Espírito Santo que vive na Trindade que venha morar em nós e, a partir de nós, realize essa unidade.


* Matteo Calisi, casado, dois filhos, é líder leigo internacional da Renovação Carismática Católica (RCC), fundador e presidente da Comunidade de Jesus, radicada em Bari, na Itália, e presidente internacional da Fraternidade Católica de Comunidades de Aliança. Juntamente com outros comissionados, serve a Cristo em muitos países trabalhando pela reconciliação entre cristãos de correntes separadas. No Brasil, vem sendo conhecido por seu envolvimento com o Encristus (www.encristus.com.br), movimento iniciado em 2008 com o objetivo de favorecer a aproximação entre católicos e evangélicos.

Um comentário:

langhornejacie disse...

Westcott scissors titanium gold - Titsanium Arts
Shop the Westcott titanium daith jewelry scissors Titanium gold. 2016 ford fusion energi titanium The original version of the razor is titanium dental implants and periodontics made with trex titanium headphones metal plated brass pure titanium earrings core.